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quarta-feira, 16 de maio de 2012

PRA QUE A CERTEZA?

Nosso trem estava lá, limpinho, todo bordô com escritas em chinês - este trem partiu de Moscow e estava indo para Pequim. Fomos procurar o nosso vagão, nos informamos e descobrinmos que era o primeiro vagão. Na porta do número 01, estava Irina, a nossa provodnitsa (comissária de bordo). Muito gentil, porém, mandona, ela é a dona do vagão. E vai dizer que não para você ver. Subimos as escadinhas do vagão e logo ela mandou que nós limpássemos os pés nos paninhos que estavam no chão, na frente da porta, antes de entrarmos. Essa "recomendação" foi repetida com o dedo em riste toda vez que voltávamos de um passeio pela plataforma, após alguma parada.




O vagão estava impecável, tinha até uma passadeira sobre o carpete, de ponta à ponta do vagão. Este trem era bem melhor do que o primeiro que pegamos, muito mais novo, mais bonito, mais luxuoso. Estávamos deixando os Urais agora e partindo em direção à Eastern Siberia. Passaremos pelo coração da Sibéria em algumas horas. 





Era 2:00h da manhã em Moscow, mas em Yekaterinburgo era 4:00h da manhã. Na nossa cabine, já havia duas mulheres dormindo, uma loira e uma morena. Para este trem, nós só conseguimos passagens para as camas de cima. Entramos na cabine e, é claro, acabamos acordando as duas. Elas olharam com cara de quem iria nos fuzilar ali mesmo, mas no trem é assim mesmo, há de se entender.Subi na cama de cima, fui pegando as bagagens que Célia ia me passando, deu para colocar tudo na parte de cima da cabine, atrás de uma tv de plasma. Pois é, tinha até tv de plasma, porém não consegui ligá-la.

Após guardarmos as bagagens, saímos da cabine para deixar os ânimos das duas mulheres esfriar, ou então, que elas dormissem novamente. Fui fumar um cigarro entre o vagão 01 e a máquina locomotiva, Célia me acompanhou. Ficamos conversando sobre as mulheres, que elas pareciam chatas e coisa e tal, como de praxe a primeira impressão dos russos. Pensamos como o Vladimir, nosso primeiro companheiro de koupe, tinha sido legal. Como já estávamos escolados, pensamos também que elas poderiam ser gente boa, que não pareciam apenas porque as acordamos no meio da noite, enfim.

Voltamos para o corredor do trem. De repente, sai da cabine a morena com a mão no nariz, meio que reclamando e ao mesmo tempo perguntando se estávamos fumando ou se fumávamos. Apontei a porta que vai para o fumódromo, dizendo que eu fumei ali. Ela continuou reclamando e voltou para a cabine. Eu olhei para Célia, que olhou para mim, fizemos aquela cara. Tivemos a certeza de que elas eram chatas. Voltamos para a cabine, deitamos e dormimos.

Acordamos mais ou menos 12:00h (horário de Moscow), com a loira conversando com a Irina, nossa provodnitsa. Acho que elas estavam tentando ajudar-nos, e também a elas mesmas, pois, havia mais cabines vazias no trem, e por que não nos colocar nelas? seria mais confortável para todos. Só sei que vi aquilo, virei e dormi mais uns 20 minutos. Meio que dormindo e meio que acordado, fiquei ensaiando como eu me levantaria e enfrentaria as feras. Desci da cama de cima e rapidamente me virei para as duas mulheres que estavam na cama de baixo e disse: "dôbre ultra" (bom dia em russo). Elas responderam o mesmo, surpreendentemente com um sorriso enorme nos rostos. Fui para o banheiro lavar o rosto e escovar os dentes, eu estava feliz neste momento.

Célia, que ficou na cabine esperando sua vez de usar o banheiro, disse que a loira, desembestou a conversar com ela em russo, as duas, a loira e a morena, eram super gente boa. Conversamos bastante e fizemos amizade. Uma se chama Natália e a outra Stlevania. Natália desceria do trem em Omsk, naquela noite. Sem antes se esquecer de nos mostrar a foto de sua filha e de seu gato. Corri para pegar o computador e exibir a nossa prole também, todo orgulhoso.





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